O
naufrágio mais famoso da história está prestes a completar 100 anos.
Tanto tempo se passou e a polêmica e interesse pelo Titanic só faz
aumentar ao longo dos anos.
É hora de regressar ao transatlântico e
relembrar os fatos, as lendas e os personagens da tragédia do maior
navio do mundo.
10
de abril de 1912, milhares de pessoas se aglomeram no porto de
Southampton, na Inglaterra, para dar adeus a seus familiares ou amigos,
ou apenas para ver partir o maior objeto móvel já construído pelo homem -
o Titanic. Ninguém poderia imaginar que o maior transatlântico do mundo
nunca mais voltaria daquela viagem inaugural,
nem que as vidas daquelas
2.240 pessoas a bordo estariam marcadas para sempre após aquela trágica
viagem que nunca teria fim.
É hora de regressar ao velho Titanic.
Construído
por três anos, de 1909 até ser finalizado em 1912 nos estaleiros da
Harland and Wolff em Belfast, Irlanda,
o Titanic desde o começo foi
concebido para ser o maior navio de passageiros até então construído e
rivalizar com os poderosos navios
Lusitânia e Mauritânia da companhia
rival Cunard Line. O Titanic e seus irmãos Olympic e Gigantic (depois
Britannic, ainda em construção),
pertenciam a classe Olympic da
companhia White Star Line e estavam destinados a ser os maiores e mais
luxuosos transatlânticos do mundo. O destino foi implacável com quase
todos os três navios, além do naufrágio catastrófico do Titanic,
seu
irmão caçula e menor dos três - Britannic, também naufragou torpedeado
por um submarino alemão durante
a 1ª Guerra Mundial. Apenas o Olympic
não teve destino parecido ao dos irmãos, quase idêntico ao Titanic, mas
um pouco menos gigantesco,
subsistiu a todos e se tornou outro grande
mito da história dos mares, tendo sito desativado apenas nos anos 30.
Os
números do Titanic impressionam pela monumentalidade. Seu comprimento
era de 269, 10 metros, sua largura de 28 m,
com tonelagem bruta de
46.328 toneladas, e altura de 18 m da linha d'água até o deque de botes.
O Titanic também estava dotado
dos equipamentos mais modernos e
poderosos propulsores da época. Havia 29 caldeiras alimentadas por 159
fornos de carvão
a combustão que tornavam possível a velocidade máxima
de 23 nós (43 km/h), incrível para a época. Apenas três das quatro
chaminés de 19 m de altura eram funcionais, a quarta era usada apenas
para ventilação e foi adicionada para dar uma aparência
mais
impressionante ao navio. O navio podia transportar até mais de 3.500
pessoas, entre passageiros e tripulação. De alguma forma,
parecia
totalmente crível que se divulgasse o Titanic como inafundável.
O
Titanic foi um dos mais luxuosos transatlânticos até hoje a singrar os
mares. Superou todos com seu luxo, requinte e opulência soberbas.
A
seção da primeira classe podia desfrutar de piscina coberta, academia de
ginástica, uma quadra de squash, banhos turcos, banhos elétricos e o
Café Verandah. As salas comuns da primeira-classe resplandeciam toda a
magnificência do Titanic, a decoração sofisticada em estilo eclético
incluía
painéis de madeira adornados, móveis requintados, lustres de
cristal, pisos caros e muitos quadros e pinturas elegantes. As cabines
chamavam
atenção pelo conforto e decoração luxuosa. A famosíssima grande
escadaria da primeira classe reluzia iluminada por uma abóbada de
cristal e ferro.
A segunda classe também dispunha de biblioteca, salão
de beleza e Fumoir, igual a primeira classe. O Café Parisien oferecia
alta gastronomia num ambiente
extremamente chique aos passageiros da
primeira classe, e não havia semelhante no Olympic. Até as instalações
da terceira classe gozavam de uma boa infra estrutura.
O Titanic
desfrutava dos mais modernos recursos tecnológicos da época, como
elevadores elétricos e rádios Marconi, manejado por dois operadores que
se revesavam
em turnos e podiam transmitir constantemente as mensagens
dos passageiros e manter contato com a terra, fato que permitiu a
salvação dos sobreviventes durante o
naufrágio do navio. Tudo isso,
iluminado pela eletricidade que abrangia todo o navio e representava o
signo do progresso no novo século. Era em suma, um navio moderno.
Entre
os passageiros do Titanic, principalmente na primeira classe, estavam
figurões da alta sociedade inglesa e americana. Gente muito importante,
entre nobres,
industriais, artistas ou apenas socialites. Mas, a maioria
esmagadora eram de gente pobre, imigrantes italianos, franceses ou
ingleses, das mais variadas nacionalidades
que buscavam iniciar uma nova
vida na promissora América. Infelizmente, a maioria deles não
sobreviveria ao naufrágio.
A viagem no Titanic, que durou apenas
quatro dias, se sucedeu com fausto para os ricos, como deveria ser. E
promissora e feliz para aqueles que carregavam a esperança
de um futuro
feliz no outro lado do Atlântico. Após a partida em Southampton, o
Titanic fez duas paradas para a entrada de mais passageiros em Cherbourg
- França e
Queenstown - Irlanda. Durante o dia, desenrolavam-se os
encontros sociais da primeira classe em passeios pelo convés, excursões
pelo navio, e almoços nos elegantes
restaurantes. Pela noite, as
senhoras estreavam suas vestimentas da última moda nos chiques jantares
oferecidos pelo capitão Smith na primeira classe, e os senhores
gastavam
o tempo em reuniões formais no Fumoir. A estratificação das classes do
navio era regiamente seguida, os ambientes não eram comuns a todas as
classes e
havia até partes do convés para cada uma delas. Durante o
naufrágio do Titanic, a separação de classes, era até então aceitável,
mas viria a ser um dos fatores X para a
perde de tantas vidas,
principalmente as da terceira classe, que só pode ser evacuada após as
duas outras classes, quando quase todos os botes já haviam sido
baixados.
Todos
conhecem os fatos que levaram ao naufrágio do Titanic na noite do dia
14 de abril de 1912. A colisão com o Iceberg as 23:40 da noite, os
primeiros sinais de socorro
em CQD e logo depois SOS que entraram para a
história, e os botes que começaram a descer às 00:31. Dando início ao
pânico e terror que permeou as últimas horas e minutos
de vida do
Titanic e seus passageiros, o que pode ser chamado de corrida pela
sobrevivência. Às 2:05 é arriado o último bote salva-vidas , o
desmontável D com 44 pessoas a bordo.
Ainda assim, no navio há centenas
de pessoas lutando por suas vidas. Às 2:10 é enviado o último sinal de
rádio pelos telegrafistas. Às 2:18 as luzes do navio piscam pela última
vez
e se apagam para sempre. Às 2:20 o Titanic mergulha pelas
profundezas do oceano, arrastando consigo centenas de almas. Cujos
últimos momentos são tenebrosos demais para sequer
imaginarmos.
Agora,
milhares de vidas estavam lançadas ao mar para a morte. O silêncio que
antes imperava, dava lugar a gritos de pânico e socorro. Em pouco tempo,
praticamente todos morreram
de hipotermia, nas águas congelantes do
Atlântico norte. Enquanto isso, os passageiros nos botes assistiam
passivamente aqueles momentos de terror profundo. Apenas um bote
regressou em busca de possíveis sobreviventes, o 14. Mas, naquele
momento quase todos já haviam morrido. Apenas seis pessoas foram
resgatadas com vida da água. Seis, dentre mais
de 1.500 pessoas. Como
disse a personagem Rose interpretada pela atriz Gloria Stuart em
determinado momento do filme Titanic de James Cameron -"E para aquelas
706 pessoas nos
botes salva vidas, só restava esperar. Esperar pela
morte ou por uma absolvição que jamais viria."
Às 4:10 da manhã
de 15 de abril de 1912, o navio Carpathia chegou ao local do naufrágio
para resgatar os sobreviventes do Titanic. Ele era o navio mais próximo
do Titanic no momento
da colisão com o iceberg, e apesar de ter vindo em
velocidade máxima ao seu encontro, só conseguiu chegar duas horas após o
naufrágio. O Carpathia rumou com os 706 sobreviventes
para Nova York,
onde chegou em 17 de abril de 1912. O número de mortos ainda é
questionado, numa quantia que varia entre 1.500 almas.
Apesar
das condições catastróficas do naufrágio do Titanic. A maioria dos
fatos e lendas que subsistiram até hoje, comprovam que a maioria dos
passageiros manteve a decência
e compostura. Seja na três classes, ou na
tripulação, há histórias que nos asseguram da bondade e solidariedade
de alguns em prol de muitos. Os dois operadores do telégrafo,
Harold
Bride e Jack Philips enviaram sinais de rádio até quando puderam na
esperança de um resgate rápido, um deles não sobreviveu. Os músicos da
orquestra tocaram fielmente
até o momento do naufrágio, todos morreram. O
Capitão Smith e o arquiteto naval do Titanic - Thomas Andrews
mantiveram a honra e afundaram junto com o navio. Margareth
Brown entrou
para a história como A inafundável Molly Brown, ela era uma dama da
alta sociedade americana, e passageira da primeira classe que durante o
naufrágio do Titanic
ajudou muitos passageiros a embarcar em botes
salva-vidas antes de ser convencida a embarcar no bote de número 6. Após
o naufrágio, quando milhares de pessoas estavam
jogadas a própria sorte
no mar gélido, ela também protestou sozinha, contra a vontade de todos,
para que o bote voltasse ao local dos destroços para tentar salvar mais
vidas.
Tornou-se uma heroína.
Outros ficariam marcados para sempre,
como Sir Bruce Ismay, o presidente da White Star Line sobreviveu ao
naufrágio garantindo seu lugar num dos últimos botes salva-vidas.
Visto
como egoísta e individualista, a sociedade nunca o perdoou por esse
feito.
Na
manhã seguinte a do naufrágio, os primordiais jornais da época e
agências de notícias já davam destaque a catástrofe do Titanic. Mas,
curiosamente, a maioria embarcou numa onda
de positivismo que afirmava
que ninguém teria morrido no naufrágio, ou até mesmo que o Titanic seria
rebocado e cumpriria viagem até Nova York. Muitas pessoas, crendo nas
parcas
notícias dos meios de comunicação da época, esperaram piamente o
Titanic no porto de Nova York na data marcada para a sua chegada. Gente
que esperava parentes e amigos, mas só
encontraram os poucos
sobreviventes trazidos pelo Carpathia. O choque do naufrágio ainda não
havia sido despertado.
O
Titanic foi um símbolo da Belle Époque e da modernidade do novíssimo
século XX. Numa época em que o futuro parecia haver finalmente chegado e
as invenções tecnológicas ditavam
o ritmo de uma nova era traduzida
pelo estilo Art Noveau. A eletricidade, o telégrafo sem fio, o cinema, a
bicicleta, o automóvel e o avião inspiravam o surgimento de um novo
mundo,
em que a realidade era outra e o passado romântico do século XIX
havia finalmente ficado para trás. O Titanic inserido nesse contexto,
representava os avanços da ciência e o poder do
homem que acabara
criando o maior objeto móvel até então construído. Essa força, poder e
segurança do homem eram afirmados no Titanic - que se diziam inafundável
- e também
acabaram por cair por terra quando ele afundou. A partir daí
perguntaram-se se essa segurança era tão real e se esse poder era tão
verdadeiro como parecia ser. Talvez, o Titanic tenha
representado uma
ruptora ideológica antes mesmo da que viria com a 1ª Guerra Mundial, que
pôs fim aquela sociedade que por pouco tempo pareceu perfeita.
100
anos depois ele ressurge das profundezas, aonde está sepultado a 4.000
metros de profundidade. Com o naufrágio prestes a completar seu
centenário, a inauguração de um museu
em Belfast, e o relançamento em 3D
do histórico filme de 1997, a lenda dos mares volta a ser posta em
questão. Mesmo após tantos anos, especialistas e pesquisadores
investigam alguns
dos mais de 5.000 objetos recuperados do navio, desde
sua redescoberta em 1985. Outros põem em questão o naufrágio, seus
destroços e vão mais a fundo ainda: mapeando cada minuto
da tragédia e
os destroços do navio fantasmagórico no fundo do mar. Levando em
consideração as condições horrorosas a que foi submetido em seu
naufrágio, alguns ambientes ainda
demonstram um ótimo estado de
conservação. Talvez, por pouco tempo, é certo que um dia tudo
desaparecerá, mas a lenda nunca morrerá.
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/vitor_dirami/2012/03/titanic-100-anos-depois.html#ixzz1rJkLlouf